Então, algo um dia, e não só um dia, aconteceu.
Não foi mais real que o sonho que tive uma dessas noites. Hoje não.
É pleno o vôo
Sublime o voar
Entre cantos e encantos
Estará o sonhar
Que é leve e nos eleva
Nos embebe e nos testa
Ao eterno chegar
Numa noite sem brilho
O sol traz o luar
As estrelas
Iluminam os cometas
De luz própria e eterno voar
Através do infinito
Sentido não-dito
Quem sonha
Vislumbra o chegar
Já chegou?
Já cheguei!
Onde?
Nem sei...
Já estava lá...
Entre o céu e a terra
Entre o olho e o olhar
Peraê!
Realmente existe uma realidade!
Existe um complexo universo há bilhões de anos que se auto-regula sem início nem fim através de ciclos químicos infindáveis!
Existe a matéria infinita! Infinitas, infinitesimais formas de agregação! Infinitas formas de existir em infinitos tamanhos e escalas!
Nesse universo, existe um planeta além da imaginação onde, em determinado momento, surgiram condições que propiciaram que a matéria se organizasse de maneira a formar sistemas orgânicos que atingiram a vida eterna através de seus intermináveis ciclos. O ciclo de vida é a forma que a vida encontrou para ser eterna.
Cada elemento que existe na terra o faz de todas as formas possíveis em intermináveis, contínuos, inseparáveis, ciclos. E muitos deles passam por nós.
Cada um de nós realiza a eternidade em si.
Cada pedacinho (que contém vários pedacinhos menores) de nós sempre esteve, à sua forma que varia conforme o resto que lhe cerca, por aqui e sempre estará.
Cada um de nós é uma nova versão da vida eterna. É mais um tijolo na eterna estrada – uma cápsula de energia organizada auto-replicante e dotada da consciência de si.
O que fazemos perante a magnitude da Existência? Como existimos?
SOMOS O MEIO.
E de que forma vivenciamos o ciclo em nós? De que forma estamos em harmonia com o Tudo?
Perante a tal grandiosidade, o que fazemos?
Tolamente, destruímos o meio. Esfacelamos a harmonia. Criamos um mundo de calor excessivo compensado por aparelhos.
Tornamo-nos mais distantes para então construirmos aparelhos para encurtar, mediante o tijolo da comunicação capitalista, as distâncias e ilusões que criamos.
Tudo regulado por aparelhos segundo nossas ignorâncias individuais.
Não sabemos lidar com a Natureza, nem mesmo com a nossa natureza – com as nossas emoções. Pagamos a alguém para que nos explique logicamente os caminhos do sentir e os desígnios de nossas almas atormentadas.
Idolatramos artistas e intelectuais que entendam (e nos expliquem) o que sentimos e para que pensem por nós e não sejamos atormentados com a realidade e possamos seguir nossas vidas insignificantes e fora de contexto.
Isolamo-nos. Depreciamo-nos. Separamo-nos do que existe e criamos uma identidade falsa - nos separamos de nós.
Não sabemos quem somos.
Não sabemos o que é ser e estar.
Inventamos o ciclo do eterno consumir e vamos nos consumir até morrer.